quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Sem considerção alguma...



Uma vez ouvi dizer que a morte escolhe seus clientes aleatoriamente. Ela deve olhar em seu livro a relação de nomes das pessoas e decide quem vai ser contemplado com o descanso eterno. Nunca entendi por que ela não olha o que cada indivíduo estava fazendo no momento, se estava estudando para uma prova de anatomia, se estava preparando sua festa de formatura, se lanchava com seu namorado, se estava trabalhando, se estava longe dos familiares, será que ela não pensa que em certos momentos a aquela pessoa não poderia ser levada? Se ela parasse para pensar que aquele momento é inoportuno para o último suspiro, ela adiaria sua tarefa.
Tantos planos são interrompidos, tantos sonhos inacabados, tantos corações despedaçados. Afinal, porque morte não pergunta antes de nos visitar? Porque ela deixa informações tão importantes sobre o nosso dia a dia para trás e nos remete a deixar coisas pela metade?
Se você parar para pensar e lembrar-se de tudo que já fez, desde aulas no maternal até cursinhos de inglês, de brincadeiras com amigos na rua de casa até primeira namorada, do primeiro beijo até a primeira relação, me responda, vale a pena tantas dificuldades para que a morte venha e te leve sem consideração alguma?
Você sai de casa e se esquece de dizer eu te amo ou pelo menos dá um abraço em seus familiares, você acha que a tarde quando voltar da faculdade irá vê-los, mas no meio da manhã, recebe um telefonema inconveniente avisando do falecimento de um ente querido.
Ninguém tem garantia de nada nesta vida, mas não vejo muita razão para alguém se preocupar com algo, se o fim não tem razão alguma. Quando você estiver à espera do seu príncipe encantado, a morte vem e toma o lugar dele. “O amor não é se envolver com a pessoa perfeita, e sim com aquela que habita nossos sonhos”, mas como saberemos que encontraremos, se às vezes não temos tempo?
Já dizia o poeta que “a morte, por si só, é uma piada pronta”, que particularmente não vejo graça alguma. Sabe quando falam que a brincadeira só é engraçada quando todos que participam da brincadeira não são prejudicados? pois, na brincadeira chamada morte, não só os participantes saem prejudicados, mas também os seus torcedores, principalmente os torcedores, pois eles são os que vibram mais com cada vitória, porém, também são os que sofrem mais com o triste fim do jogo.
“O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido”, acredito que esse poeta não criou essa frase durante uma visita da morte às pessoas que vivem a sua volta, pois do contrário, ele afirmaria que o maior dos sofrimentos seria essa despedida tão inesperada.
Queria fechar os olhos para imaginar que a morte só levaria aqueles que já viveram muito, se apaixonando alguma vez, se decepcionaram uma vez ou duas, escorregaram em um poça d’água , tiveram vários amigos, foram em várias festas, tomaram sorvete em um dia quente, choraram por ter perdido um amor, já pegram um ônibus lotado para ir ao trabalho, enfim, aquelas pessoas que experimentaram todos os sabores e cheiros de estar vivo.
Queria só entender porque a morte nos mostra uma pergunta, mesmo que não entendemos a resposta. Não gosto de ser a platéia nesse melodrama da vida, pois, no fim do espetáculo não posso bater palmas e chorar emocionado com o final feliz, mas baterei palmas com o desempenho dos atores e lacrimejarei com a saudade de cada palavra dita por eles...

“Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores... Mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos.
Vinicius de Morais”





Um comentário:

  1. Que texto é esse? Vini, Vc me conhece, e acredito que conhece bem e sabe como estou agora né?
    Falar de morte, dói até hoje, 3 anos, 6 meses e 14 dias depois a dor continua a mesma.
    É uma falta tremenda ... Enfim.
    Escreveu lindo, de um forma tão suave e ao mesmo tempo tão real, falar da morte não é fácil, e vc conseguiu fazer um lindo texto.
    Parabéns

    ResponderExcluir